quinta-feira, 10 de março de 2011

Papa contra diversidade e direitos humanos

   Mais uma vez o Papa Bento 16 perdeu a oportunidade de ficar quieto e não demonstrar o quanto é atrasado, preconceituoso e conservador. Em uma única carta,na qual defende a campanha da fraternidade, vossa santidade consegue jogar dois assuntos importantes e delicados na vala comum do pensamento moralista e retrógrado, comprovando que o Vaticano não se esforça para entender e aceitar a diversidade e o avanço no pensamento da humanidade. Bento 16 marcou sua posição contrária ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
   Parece ser realmente difícil para o Vaticano entender que a discussão sobre o aborto deixou de ser moral e se tornou um problema de saúde pública. Enquanto a Igreja e outras instituições conservadoras insistem em se posicionar contra a legalização do aborto, milhares de mulheres morrem ou são mutiladas em clínicas de aborto clandestinas. Bento 16 utiliza o argumento de que a vida humana deve ser preservada, esquecendo da vida humana das mulheres que são expostas aos mais perigosos métodos de aborto, muitas vezes motivadas pelo desespero ou falta de informação. Será que é tão absurda assim a ideia de que o Estado possa assumir a competência de realizar o aborto e poupar vidas humanas, como o líder religioso tanto defende? Há três anos, Portugal legalizou o aborto e o sistema nacional de saúde passou a realizar o procedimento. A medida fez o número de morte e mutilações cair para quase zero, pois mais de 70% dos abortos são feitos gratuitamente pelo Estado, e não mais por clínicas clandestinas. E o mais chocante, a média de abortos é a mesma dos anos em que o procedimento era ilegal, comprovando que a legalização não estimula ninguém. Mas, infelizmente, a Igreja está mais preocupada em defender seus interesses do que discutir o assunto e ouvir argumentos. Os abortos acontecem de qualquer maneira, então que seja feito em segurança pelo Estado.
   Na mesma linha de pensamento, preocupado em defender a vida e os valores da família, Bento 16 também deu seu infeliz pitaco e disse que o casamento entre pessoas do mesmo sexo pode prejudicar a base familiar tradicional. Engraçado a Igreja falar isso, se eles não sabem o que é família. Orientam os padres a viver uma vida dedicada à Igreja e não ao matrimônio. Ora, se o Vaticano defende tanto assim a unidade familiar, qual o problema de padres comporem famílias? Isso atrapalharia os interesses da Igreja? Esse tipo de declaração soa tão hipócrita quanto preconceituosa, pois mostra o quanto Bento 16 desconhece do assunto e não está nem um pouco preocupado em entender que pessoas que se amam têm todo o direito de casar e ficar juntas, como fazem os casais heterossexuais. Isso chega a ser engraçado. Será que o formato de família que temos hoje será ameaçado com a aprovação da união entre homossexuais? As famílias de hoje não precisam disso pra se desfazer. Cada vez mais aumentam os casos de separação entre os casais heterossexuais. O problema é mesmo o casamento gay?

Um comentário:

  1. Belo texto. Concordo que a Igreja é retrógrada - mas sempre será assim - e que a hipocrisia é uma das características de qualquer confissão cristã.
    Mas discordo em muitos pontos.
    Não penso que o problema das mortes de mulheres por abortos clandestinos seja um problema da ilegalidade da prática. Aqui falta EDUCAÇÃO. A criança no ventre da mulher tem o direito de viver e é tão vítima quanto a mãe. Aliás, eu diria que é ainda mais vítima.
    Casos de estupro, riscos na gravidez e HIV já permitem que o aborto seja realizado. Não vejo porquê abrir mais. Educação, aqui, é a solução.

    Quanto ao casamento gay é um pensamento que nenhuma crença religiosa vai aceitar, infelizmente. Concordo com seus argumentos, discordo do Papa, da Igreja e das religiões por pensarem assim, mas infelizmente ninguém viverá para ver uma mudança de pensamento nas diversas confissões religiosas sobre este assunto. Resta-nos lutar politicamente para que os direitos de todos sejam garantidos.

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